Não foi a distância que nos separou

Eu havia retornado à cidade, depois de um ano. Tudo continuava igual, mas o sentimento era diferente. Daquela vez, estava de passagem apenas. Três dias, 72 horas, 4.320 minutos. Tempo suficiente para que eu me apaixonasse. Ou, pelo menos, para que me descobrisse apaixonada depois de alguns meses saindo com você.

Ao invés de ver passarinhos voando ou sentir borboletas no estômago, a sensação foi mais um misto de angústia e desilusão. Descobrir-se apaixonado por alguém que está distante não lhe traz boas previsões. Rejeita-se aquele sentimento, porque está claro que, na realidade, o sofrimento é inerente a ele. Por mais que a distância não seja empecilho, é preciso um empenho muito maior, de ambas as partes, para que uma relação aconteça.

Os quilômetros de separação se tornam obstáculo a qualquer pessoa em sã consciência. Mas, quem disse que coração tem consciência? O meu, pelo menos, não tem. A minha consciência é o sentir: intenso, vívido e pulsante. A minha e de muitos outros apaixonados por aí que, assim como eu, deixam o coração livre para que ele defina o caminho. Para ele, quilômetros são meros centímetros.

Pobre coração. Iludiu-se com o seu jeitinho calmo e tranquilo. Pela forma com que você falava da sua avó, dos seus irmãos e dos seus pais. Com a delicadeza e a força do seu signo no zodíaco. Com os seus beijos, que eram lentos e repletos de desejo. Com a força que tinha o seu olhar. Com a sutileza e, ao mesmo tempo intensidade, com que percorria as mãos sobre o meu corpo. Com a sintonia encantadora dos nossos encontros. Mas, infelizmente, era só ilusão.

A distância que seria o grande empecilho, de forma alguma, impediu que o meu amor florescesse. Com certeza, também não impediria que ele se manifestasse, fosse por mensagens diárias, por viagens constantes e por uma separação física que teríamos que lidar. O que me afastou de você não foram os novecentos quilômetros, mas sim a distância entre o seu e o meu coração. Enquanto o meu vagava pelo clima quente do Deserto do Saara, o seu se instalava nas geleiras do Alasca.

Onde não há disposição e empenho, não há amor. Seja lado a lado ou a um oceano de distância. E eu só me dei conta disso, quando me despedi com a certeza de que o retorno para a minha cidade não nos afastaria, mas sim, a distância que você insistia em manter. Foi além dos meros quilômetros que nos separavam, mas não foi além do seu pouco caso. Sinto muito.

Nada está igual desde que a gente se separou. Leia aqui.

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