Porque baladas não me representam

Era sexta-feira à noite. Enquanto minha irmã passava o batom vermelho, eu colocava o meu melhor pijama. Meus amigos se reuniam para um “esquenta”, enquanto eu assistia à reapresentação da minha novela preferida dos anos 2000. Uma sexta nostálgica e tranquila. Daquelas que você está em paz consigo mesma, apesar de estar em casa, de pijama e vendo novela na noite mais badalada da semana.

Eu simplesmente estava ali porque queria. Porque era essa a minha vontade. Com o tempo, aprendi a ceder aos meus desejos e a entender que, ao contrariá-los, estaria negando a mim mesma. Passei a aceitar estar em casa, mesmo quando todos os meus amigos se preparavam para sair. Eles queriam sair, beber e dançar e era isso que deveriam fazer. Já eu, não poderia acompanhá-los porque iria contra o meu desejo, em favor do desejo dos outros.

Naquela sexta e em muitas outras por aí, a minha vontade era ficar longe de baladas. Do tumulto, da música e do salto-alto. De felicidades vazias e estampadas em redes sociais. Da rouquidão e do excesso, já que nunca consigo trocar uma única frase com alguém sem ter que gritar no ouvido da pessoa. Dos beijos sem compromisso e da infinidade de encontros que, no final da noite, escancaram ainda mais a solidão. De multidões, que, apesar do agrupamento, são apenas milhares de indivíduos limitados em suas próprias curvas.

Não que isso seja de todo ruim. Isso não é um boicote às baladas. Pelo contrário, é apenas uma súplica para que cada pessoa faça o que lhe for conveniente. Ou melhor, o que lhe trouxer paz e felicidade. Para os meus amados amigos, a felicidade consiste em beber, dançar até o amanhecer, chegar em casa e capotar. Ótimo. Que eles concluam a atividade com sucesso. Já para mim, felicidade é o cheiro de amaciante no meu pijama, o meu edredom de malha, a minha novela antiga e uma larica gostosa.

Que cada um aceite a sua própria vontade e a respeite. Sem máscaras, poses ou artifícios. Que a atitude individual seja um boicote à necessidade de ter que fazer algo pelo desejo de pertencer a um grupo, pelo medo de magoar às pessoas, pelo receio de parecer uma pessoa depressiva. Sobretudo, que não haja obrigações, mesmo que façamos parte de uma geração Y, baladeira, hipster e cool. Uma geração que padroniza comportamentos e que inibe individualidades.

Por aqui, só o que me representa de fato. O resto, deixo passar. Afinal, ao invés de negações, prefiro afirmações de mim mesma. Definitivamente, um pijama me representa muito mais do que uma noite de balada.

Que sejamos nós mesmos, nus e crus. Por um mundo com menos plasticidade e mais realidade. Leia mais aqui.

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