Na calmaria, a descoberta

Como bons perfeccionistas, queremos tudo ao nosso controle. Ou melhor, quase tudo. Por mais que haja planos e programações, algumas questões são impossíveis de serem controladas. A vida é uma eterna montanha-russa. Ao mesmo tempo em que você está no alto, apreciando a bela vista, em alguns segundos, tudo desmorona. São altos e baixos que, inevitavelmente, é preciso aprender a lidar, de uma hora para outra. E, infelizmente, a gente se acostuma a isso. Em momentos de calmaria, a vida acaba perdendo a graça.

Ao invés de apreciarmos a paz, vivemos a esperar o próximo momento de adrenalina. Nos acostumamos ao movimento, seja ele bom ou ruim. Não conseguimos ficar parados por muito tempo, literalmente. Estamos sempre correndo, sempre resolvendo, sempre se estressando. Aí quando a paz chega, porque em algum momento ela realmente chega, não sabemos aproveitá-la. Ficamos ansiosos em decorrência do tédio, da sobra do tempo, da liberdade dos horários. Não aceitamos a própria calmaria, e passamos a buscar o movimento a partir de outra pessoa. Escolhemos alguém para movimentar o que andava parado.

Em alguns momentos, por mais que você queira resolver todas as coisas, não há muito mais o que fazer. As coisas devem se resolver por elas mesmas. Sem essa responsabilidade de decisão, ficamos perdidos. Procuramos problema onde não há. Queremos movimento, quando deveríamos aproveitar a calmaria. Nessa busca incessante por se sentir ativo, a gente cria um movimento que nem sempre traz benefícios. Colocamos outra pessoa na nossa vida para nos tirar do tédio. Para nos fazer sentir vivos. Para suprir nossas carências. Damos espaço àquela que traz junto um turbilhão de sentimentos.

E a escolha é exatamente a partir daí: procuramos no outro o que nos falta. Se há calmaria, queremos agitação. Se tudo está parado, queremos movimento. Mesmo que esse movimento não seja algo tão bom. Mesmo que essa pessoa venha apenas para nos bagunçar, para nos tirar o chão. Precisamos das quedas da montanha-russa, afinal não sentimos prazer no caminho plano. E essas quedas nem sempre nos fazem bem. Nos trazem medo, enjoo, palpitação. Mesmo assim, insistimos em comprar o ingresso.

Não aceitamos a calmaria, mesmo desejando-a. No fim, queremos o stress, o relacionamento conturbado e não correspondido, a pessoa indecisa e cheia de problemas. A tranquilidade não nos atrai. Infelizmente. Dessa forma, continuaremos sofrendo quedas bruscas, enquanto não aceitarmos a própria calmaria.  É nela que a gente, de fato, se reconhece. E é só a partir do reconhecimento, que melhores escolhas virão.

Lembre-se: somente no terreno plano é possível apreciar, realmente, a vista.

Não opte pela mentira para tirar a sua calmaria. Leia mais aqui.

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