Para as que matam um leão por dia

Cleuza acorda todos os dias às 5h. Prepara os filhos de 2, 3 e 5 anos de idade para levá-los à creche. Pega dois ônibus até lá e depois mais dois até o trabalho. O expediente vai até às 18h, servindo café, água e lanchinhos a executivos da empresa. Diante de tanta correria, hoje, ela nem sequer lembrou do seu dia. Nem ela, nem os seus superiores. Cleuza tem questões mais importantes a se preocupar.

Sandra é bancária há quase 30 anos. Além de se manter firme no trabalho, ainda desempenha brilhantemente o papel de provedora da família e de mãe exemplar. Dá todo o apoio às duas filhas jovens que moram na cidade ao lado. Mais do que isso, tornou-se mãe do seu próprio marido. Depois de ser acometido por uma doença neurodegenerativa, o seu grande amor desenvolveu uma dependência física e emocional dela. Sandra dificilmente reclama.

Marcela ainda não se formou na faculdade, mas já conseguiu um estágio de meio período. Para complementar a renda, vende docinhos no intervalo das aulas. Mora com os pais e se dedica inteiramente a eles, quando chega em casa. Aos fins de semana, namora o Felipe. Seu amor pelo namorado é gigante, mas não foi capaz de impedir que ela cortasse os cabelos acima do ombro, mesmo contra o desejo dele. Marcela já é muito guerreira para a idade que tem.

Dona Ana é uma senhora de quase 90 anos. Viúva e aposentada, ela usa o dinheiro da aposentadoria para ajudar os filhos, sempre enrolados em alguma dívida. Passa horas na fila do SUS para se consultar com um cardiologista, que a ajuda a controlar a pressão alta. Quando jovem, foi militante contra a ditadura, da qual se orgulha de ter resistido bravamente. Hoje, Dona Ana resiste todos os dias ao passar do tempo.

Cleuza, Sandra, Marcela e Ana são as mulheres, dentre tantas outras, que representam o dia de hoje. São elas que vão à luta, longe dos holofotes. Elas não estampam capas de revistas ou entram para o rol de mulheres poderosas. O poder delas não é ligado ao sucesso, à beleza ou à prosperidade. São reais, de carne, osso e problemas. Matam um leão por dia e descobrem uma força que nem elas mesmo conheciam.

A elas, a você, a todas nós, muita honra e respeito.

Feminismo não vem só de casa. Leia aqui.

 

 

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6 Comentários

  1. WANDERSON MENDES says

    Belo texto Isabela! A melhor homenagem que nós homens podemos fazer as mulheres é respeitando-as e nos opondo a todas as formas de opressão…

    Beijos!

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