Quando o vazio ocupa

Eu sempre senti um vazio enorme. Vazio de vida, angústia permanente, espaço que parece faltar no meu cotidiano. Brinco que vivo a andar com uma falta por aí. Mas, falta do que? Tenho, hoje, uma profissão que me completa, uma família maravilhosa e uma vida digna de muito agradecimento. No entanto, a falta não está ligada com o quão bem você está na vida prática. É um vazio inerente, espaço avesso às condições externas.

E, na tentativa por buscar preencher uma falta que nem eu mesma sei do que é, criei uma ilusão de que, quando me relaciono com alguém, me sinto mais completa, mais preenchida. O outro ocupa todos os espaços da minha vida e faz com que eu enxergue o copo, que andava meio vazio, agora meio cheio. Mas, está aí a grande questão. O copo continua meio vazio, eu que mudo o olhar sobre as coisas, quando estou acompanhada.

E aí, quando volto a me enxergar sozinha outra vez, mesmo estando acompanhada, percebo que a sensação de vazio foi amenizada porque, no fundo, ocupei o espaço que faltava com a outra pessoa. Transbordei-me do outro. Ocupei-me dos seus problemas, da sua rotina, dos seus gostos. Perdi-me de mim e saí ainda mais vazia. Porque o vazio sempre esteve lá, ele nunca deixou de existir.

Chego à conclusão de que o vazio é parte de mim. É parte de todos nós, humanos, em busca de entender essa existência. Buscar preenchê-lo com o outro, é esvaziar-se de si. O que nos resta é nos ocupar do próprio vazio. É fazer com que a falta tome espaço, ocupe a devida parte e, com isso, talvez nos acostumemos a andar vazios por aí.

Quem sabe não é nesse vazio que se encontram as respostas para muitas de nossas questões? Quem sabe, aceitando esse vazio, conseguimos aceitar o outro em sua totalidade, sem colocá-lo nessa falta? Quem sabe, o vazio seja o caminho? Só nos resta descobrir o que ele nos reserva, assim, olhando-o de frente, sem colocar coisas ou pessoas no seu lugar. Seguimos, vida afora, vazio dentro…

Metades da laranja são apenas metades. Leia aqui.

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