Pena que analgésico não cura decepção
Você sempre me salvava. Em uma crise de enxaqueca, em um dia estressante ou naqueles dias terríveis de TPM. Eu recorria ao estoque de analgésico que você mantinha como reserva. E aí, não era só o efeito do remédio que me curava. Era também o seu carinho, a sua disposição, a sua atenção. Tem dias que a dor de cabeça apenas reflete uma tristezinha no coração. E, para esses casos, o medicamento era apenas placebo. O que realmente me curava não tinha fórmula química.
E aí, de comprimido em comprimido, meu coração foi se enchendo de você. Aos poucos, você foi tomando espaço, mesmo diante de tamanha resistência. Eu fui acreditando no que dizia, mesmo estando tão cética, depois de tamanhas decepções. Você despertou algo e continuou a me oferecer pequenas doses que reforçaram esse sentimento. Eu tentava resistir, mas o efeito do que você me dava era mais forte. Eu ficava bem, distraía-me da carência e me fazia ficar ainda mais próxima de você.
No entanto, as pequenas doses diárias apenas curaram os sintomas. Mais do que isso, me fizeram acreditar em uma ilusão. Eu não conseguia enxergar a realidade, pois, além do efeito do remédio, eu estava sobre o efeito que você me causava. E eu gostava tanto disso, sabe. Eu podia esquecer a razão por alguns segundos, podia criar uma realidade só nossa, podia sonhar.
Só que aí o tombo foi grande. E, infelizmente, analgésicos não curam as feridas que ficaram. Você me decepcionou, não por ter feito uma escolha diferente das minhas expectativas, mas, por ter alimentado o que não poderia suportar. Por ter me feito acreditar nas suas pequenas doses de amor, por ter me incluído no seu roteiro de aventura. Porque, sim, eu fui apenas uma aventura. E é triste ter sido alguém para preencher um vazio temporário. Eu me tornei um arrependimento, um simples lapso da sua razão, um erro.
Confesso que me viciei nas doses que me oferecia. Nas conversas leves e divertidas, na preocupação em secar minhas lágrimas, no contato diário e intimista. Mas eu não posso depender apenas daquilo que você pode me dar. E, infelizmente, você só consegue me dar fragmentos, frações de um sentimento que pede muito mais que isso. Pede entrega, disposição e, principalmente pede que você esteja livre.
Então terei que abdicar de toda a sensação boa que me trouxe. Terei que lidar com a abstinência. Não vai ser fácil, eu te garanto. Mas também não será impossível. Apesar de você ter lutado contra isso, você foi mais um capítulo triste da minha história, que eu não pretendo esquecer, mas de que é preciso seguir em frente. Sinto lhe dizer, mas eu não posso amar em doses homeopáticas. Prefiro logo me viciar de vez no amor.
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Não me responda, antes de responder a si mesmo. Leia aqui.
Pasma de ler o que está escrito na minha alma, embasbacada de rever em palavras o que está dentro do meu coração nesse instante. Não tem explicação essa tradução de sentimentos. Preciso de um analgésico agora!
Ahhh que coisa boa ler isso, Ana!
Fico tãão feliz que vc se identifique com o texto!
Sim, precisamos agora de um analgésico! E daqueles que curem dor de amor, de preferência!haha
Beijo grande <3
Isa, parece que vc sabe das nossas vidas… rsrs
Quando leio seus textos, impossível nao senti algo gritando dentro da gente.
Simplesmente Perfeito, como todos os seus textos.
Ahhh querida, eu fico tão feliz em saber disso, sabia?
É esse carinho que me faz continuar!
Quanto a você, continue sempre uma leitora fiel, viu? Conto com vc!
beijo <3