Carta aberta à solteirice
Cara solteirice,
Eu sempre fugi de você. Procurava companhia a todo custo, mesmo que, para isso, eu precisasse recolher a atalhos ou me contentar com pequenas migalhas. Eu aceitava ser o date de sexta-feira, mesmo recebendo mensagem tarde da noite, depois de todas as opções da outra parte terem se esgotado. Eu era tapa-buracos, afinal, eu precisava preencher a falta que existia em mim.
Mas aí, cara solteirice, com o tempo, eu fui fazendo as pazes com você. Eu fui gostando das minhas noites de pijama e This is Us na televisão. Dos pratos que eu aprendi a cozinhar e a saborear sozinha, sem ter a obrigação de eles terem sido aprovados ou não por outra pessoa. Junto com o acordo que eu fazia com você, automaticamente, eu me perdoava, dia após dia.
Perdoava os meus defeitos, os erros dos relacionamentos passados, a parte de mim que eu odeio e que nem sempre é possível jogar para debaixo do tapete. Estando ali, de frente para você em todo momento, eu me enxergava. Reconhecia as cicatrizes, mas também via certa beleza em cada uma delas.
Foi você que me ensinou a criar uma vida da qual eu me orgulhasse, da qual eu gostasse. Mesmo nas pequenas e simples coisas, eu olho e me reconheço. E olha só, eu nunca botei fé nesse clichê barato de que é preciso estar bem sozinha, para, só então, estar bem acompanhada.
Mas foi acontecendo, de forma natural, sem seguir o manual da coach do amor próprio ou o mindset perfeito dos relacionamentos pessoais. Eu te encarei de frente, cara solteirice. E ao invés de encontrar o bicho papão que me assombrava nas histórias da infância, encontrei uma amiga imaginária. Que me acolhe, que é parceira, que preenche a minha falta. E, para a minha surpresa, essa tal amiga é o reflexo do que vejo no espelho.
Obrigada por me revelar, por me trazer de volta à minha própria casa. Dela, só saio se for para melhor. Enquanto isso, permaneço aqui dentro, fazendo uma bela e confortável morada.
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