Sobre uma geração que não pode errar

Não é permitido errar. Não pode, não deve. Nem como experiência, muito menos como tentativa e risco. Somos uma geração que se cobra ao máximo e exige uma rígida perfeição. Qualquer deslize parece ser fatal. Tanto para nós, quanto para as pessoas que nos julgam. Nossos chefes, professores, pais, amigos. Todos eles, além de você, é claro, esperam que você acerte de imediato o alvo. E ainda: sem titubear.

Aí voltemos àquele ditado: quando se aperta demais, escorre pelos dedos. Pois é. Nenhum ser humano passível de erro aguenta uma pressão excessiva. E o pior, uma pressão que vem de você mesmo, acima de tudo. A cobrança em ser o melhor funcionário aos 25, em chegar aos 30 com um relacionamento estável, casa própria e dois carros na garagem. Além de não poder errar com o namorado, com o chefe e com os amigos, você ainda precisa ser exemplo. Precisa exibir nas redes sociais o seu novo status de relacionamento, o novo cargo e a foto com o carro zerado.

Sinto dizer, mas você não vai aguentar muito tempo. Ou melhor, não vamos aguentar. Virão as gastrites, as úlceras, as enxaquecas e a imunidade baixa. Virão os choros descontrolados e os ataques de fúria. Irão embora os momentos de lazer, os dias em que você passa de pijama e os finais de semana de sombra e água fresca. Você passará a cronometrar o tempo e, contraditoriamente, a perder cada vez mais tempo. Vai esperar a sexta-feira para, quando ela chegar, ficar ligado nos e-mails de trabalho. Você não vai “desligar”.

E, por mais que existam pílulas de longevidade e inúmeros liftings e botox, você irá sucumbir. Poderá até chegar aos 90, como o meu avô, mas jamais terá a tranquilidade e a paz de espírito que ele tem. Na sua idade, meu avô se preocupava em realizar bem a colheita de café. O trabalho era pesado, de sol a sol, porém, na época, ainda era permitido errar. Ele arriscava, tentava, tinha paciência. Levava um dia após o outro, mesmo com os imprevistos, como as geadas que queimaram toda sua safra.

Após o final do expediente, ele voltava para casa e ia curtir a minha avó e sua família. Ouvia rádio e ia dormir cedo. Fazia questão de tirar a siesta após o almoço, mesmo que fosse embaixo de uma árvore. No dia seguinte, começava tudo de novo. Assim como hoje, as coisas também podiam mudar a qualquer momento. Um erro ou uma geada alterava o percurso. Com uma rara exceção: ele era flexível com ele mesmo. Sobretudo, conhecia os próprios limites e enaltecia suas qualidades. Aceitava os erros e lutava para mudá-los.

Diferente de nós, ele se permitia errar. E talvez seja esse o grande segredo da longevidade. Vai querer testar para ver?

Erre. Mais e mais. Permita-se.

Por menos pessoas de plástico. Leia aqui.


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12 Comentários

  1. Rosemary Brandi Torres says

    Interessante o texto,concordo com vários pontos do mesmo,e discordo de alguns poucos,isto faz parte,mas o importante é que o texto fala de gerações diferentes,

    1. Isabela Nicastro says

      Rozemary, que bom que você gostou!

      E fique à vontade para discordar do que achar!
      O blog está aqui para destravarmos todas as línguas haha

      Volte sempre aqui!
      Beijo grande 🙂

  2. ELIZABETH says

    Isa, muita Luz sempre.
    Não imagina o quanto aprecio cabeças pensantes e atuantes.
    O mundo vem se dando conta, através de jovens cabeças como a sua, que a construção de um ser humano é uma mera pretensão…. jamais….
    Só Deus pode não é ?
    O homem só é um colaborador…. e como tal ele é um privilégio…
    Parceiro de Deus….. Parceiro… precisa mais ?
    Você está coberta de razão….
    Parabéns !!!!

    1. Isabela Nicastro says

      Elizabeth, muito obrigada querida!
      Que bom que você se identifica com os textos que escrevo!

      Volte sempre ao blog e dê sempre sua opinião!
      Ela é importantíssima para que eu continue melhorando sempre!
      Beijo grande 🙂

  3. Mercedes says

    Nossa!!!
    Nossa Bebela é sensacional, sabedoria pura, não só transmite à sua geração, como também falou com a minha (década de 50)misericórdia kkk. Beijos da titia Tede.

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