Aos que dormem em paz
Sempre aprendi que não se deve brincar com coisa séria. Não se brinca com trabalho, nem com doença e, principalmente, não se brinca com as pessoas. Sentimento é coisa séria. Com o seu, você pode até dar umas risadas de vez em quando, mas com o dos outros é brincadeira de mau gosto. É maldade.
Não se diz ‘eu te amo” como se diz ‘me passa o requeijão, por favor’. Não se diz sim, quando queria dizer não. Não se mostra amigo, quando se tem inveja. Não se firma compromissos, quando a intenção é evasão. Não se jura lealdade, quando a mentira é habitual. Não se joga com o olhar sincero, com o coração pulsante, com a emoção à flor-da-pele. Não se brinca com esse verbo tão nobre: o sentir.
Infelizmente, com o tempo, a gente cruza o caminho de pessoas que tratam o sentimento como um jogo. De futebol, talvez. O coração representa a bola, sendo jogada de um lado ao outro, com o objetivo de atingir o gol. O gol, nesse caso, significa o fim, já que o time com mais goleadas vence o jogo. Com o sentimento, não parece ser diferente. Aquele que goleia mais, sai vencedor. Sai por cima, saltitante e feliz, enquanto o outro é derrotado. Afinal, jogar com o sentimento e feri-lo gravemente parece ser sinônimo de vitória.
Os que sentem demais só sofrem. É o que dizem por aí. Quebram a cara e, ainda mais, o coração, diversas vezes. Vivem para juntar pedaços e para se recompor das decepções. No entanto, não conseguiriam ser e agir de outra forma. São intensos e têm a emoção como guia. Reconhecem o valor de um gesto, de um carinho ou de um abraço. São atentos aos detalhes e é isso que os torna completos.
Os sensíveis aprenderam, desde a infância, que não se brinca com coisa séria. Para as pessoas de bom coração, sentimento é documento. Não é jogo. Não se troca, não se vende. Os que sentem de verdade jamais irão ferir o sentimento de outra pessoa. Eles sabem o quanto dói ter o coração “chutado” de um lado para o outro. Quem reconhece a dor, jamais fere.
Por isso, prefiro ser do time de cá, que na maioria das vezes, perde uma partida. Sai derrotado e machucado, mas de cabeça erguida. Intensos em cada detalhe, doando-se em cada gesto e coerentes com a própria consciência. À noite, quando se deitam, dormem tranquilos, já que não brincaram com os próprios sentimentos e, muito menos, com os de outra pessoa.
Aos de consciência tranquila, bons sonhos para nós.
É melhor estar entre os atacados injustamente, do que entre os que atacam covardemente.
Com certeza, Paulo! Também prefiro 🙂