Por menos pessoas de plástico
O mundo está cheio de aspirantes a bonecos. Daqueles de plástico mesmo, que eu brincava com os meus primos, quando criança. A diferença é que esses andam, falam, comem. Passam três horas diárias na academia, após um longo dia de trabalho. Saem de lá, tomam suco verde, assistem o noticiário do dia, expõem opiniões no Facebook sobre a pauta política e postam um vídeo de ‘boa noite’ no Snapchat. E a rotina, escancarada online, se repete a cada dia.
Suas vidas parecem sempre perfeitas. Cabelos escovados, unhas feitas e posts impecáveis nas redes sociais. Ninguém mais sai do trabalho cansado, em que come qualquer coisa na rua, chega em casa e ainda não consegue nem lavar o cabelo de tanto cansaço. No outro dia, todos amanhecem maravilhosos, nada de coque ou rabo de cabelo para disfarçar o bad hair day. Vão para o trabalho mais cobiçado e, após o expediente, ainda têm ânimo para a balada mais “top” da cidade. Claro, com o melhor namorado ou namorada do mundo. São pessoas reluzentes, impecáveis, exemplos de aparência e de personalidade.
Olha só, sinto decepcionar vocês, mas por aqui não tem nada de plástico. Nada de perfeito. Tem dias que eu acordo com uma bad tremenda. Uma vontade de ficar de pijama o dia todo, mas aí me forço a sair com a primeira camiseta e calça que encontro pela frente. Não tenho ânimo para baladas, muitos menos as consideradas “tops”. Não saio do trabalho e vou para a academia, infelizmente. Não sigo uma dieta rígida e, por vezes, me jogo em um super rodízio de pizza em plena segunda-feira.
Por aqui, não tem frescura. Falo alto, com alguns palavrões e gesticulo feito uma louca. Às vezes, fico mais de meia hora para escolher o melhor filtro no Instagram. Os relacionamentos fracassam. Quebro a cara constantemente com babacas que cruzam o meu caminho. Tenho que resolver problemas simples, porém inevitáveis, como a internet que não pega e o remédio das minhas cachorras. E aí, de vez em quando, desconto tudo isso nas pessoas que mais amo. Choro, grito e fico triste. E, nesses casos, as lágrimas e o suor não são de plástico.
Sou de carne, osso e, sobretudo, coração. E, diante de tanta ostentação de perfeição nas redes sociais, você precisa lembrar que também é. Que o mundo de plástico não deveria ser, de forma alguma, pretensão de realidade. O verdadeiro sentido da felicidade é a realidade, nua e crua, mas nem por isso menos bela. Que os pequenos obstáculos da vida nos façam perceber que é na simplicidade e sinceridade que as pequenas alegrias se encontram.
Por isso suplico a você: mais exageros. Mais deslizes. Mais expressões de sentimentos e corações pulsantes. Menos likes e cabelos escovados. Que sejamos nós mesmos, nus e crus. Por um mundo com menos plasticidade e mais realidade. É o que eu peço. E, no fundo, é o que você também deseja.
Lindo e verdadeiro texto, Isa! Meu irmão já usou este termo em uma dissertação para a escola.
Obrigada Gabi! fico feliz que gostou! continue sempre por aqui! <3