Perco tempo para ganhar paz

Ando perdendo tempo. Deixando com que ele passe, sem me preocupar com as horas, minutos e segundos gastos com absolutamente nada. É um aprendizado diário. Não é fácil acostumar-se a perder. Principalmente o tempo, diante de uma realidade em que cada milésimo de segundo é visto como lucro e sinônimo de sucesso. No entanto, aprender a “perder tempo” não significa, de forma alguma, deixar de se importar. Pelo contrário, é aprender a importar-se com o que realmente importa.

Passo os finais de semana de pijama, vendo novela, filme ou qualquer coisa sem muita importância na televisão. Nada que me faça pensar muito, aliás. Troco o desejo por estudar outro idioma ou engatar algum curso depois do expediente para ficar de bobeira em casa. Deixo a geladeira cheia de verduras e saio para comer coxinha em plena segunda-feira. Escolho cumprir horários no trabalho e não ultrapassá-los apenas para dar uma falsa ideia de competência. Abandono os almoços de dez minutos para emendar um cochilo de meia hora. E assim, a cada dia, “perco” mais tempo.

Passei a priorizar algumas coisas que antes me eram secundárias. Uma conversa, um abraço demorado, a companhia para um jantar. Na minha lista de prioridades, o trabalho e as obrigações diárias ainda estão inclusas. Afinal, a mania de perfeição e o desejo por me dedicar são intrínsecos a mim. No entanto, há outras questões muito mais importantes que ocupam o topo da lista.

Por exemplo, há um bom tempo atrás, em uma segunda-feira de pré-vestibular, enquanto eu estava atarefada em colocar os estudos em dia, meus avós chegaram para uma visita. Ao mesmo tempo em que queria aproveitar a presença deles, me sentia culpada por ter abandonado os estudos. Conclusão: não consegui nem estudar direito e muito menos aproveitar a visita deliciosa dos dois. Na preocupação em cumprir as obrigações, esqueci de valorizar o que realmente importava.

Depois disso e de outras situações parecidas, passei a não ter mais orgulho de uma agenda cheia. A não me orgulhar de dizer às pessoas: “não podemos nos encontrar porque estou com muita coisa para fazer” ou “é tanta correria , não é?” Mudei a minha visão sobre competência. Sempre considerei as pessoas atarefadas e cheias de compromissos como muito competentes. Seriam elas o futuro. Os bem-sucedidos, os capacitados. No entanto, foi o próprio tempo o responsável por me mostrar o contrário. Ainda bem.

Hoje, perco tempo para ganhar paz. E ah, posso te dizer que há muita paz na perda.

A gente precisa perder tempo para se encontrar mais. Leia aqui.

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4 Comentários

  1. Cláudia Goliver says

    Nossaa que texto incrível ameiii voce tem um dom rs melhor amei todooos será que da pra comentar todos e compartilhar haha ja virei fã sempre estarei por aqui, parabéns. Bjsss

    1. Isabela Nicastro says

      Que bom que vc gostou, Claudia!
      Claro, continue sempre por aqui.
      É um prazer!
      Curta também a fanpage do blog e continue acompanhando as atualizações do blog por lá! Beijo grande!

  2. Jhonattan Felipe says

    Belo texto e ótimo ponto de vista sobre algo bem peculiar. Obrigado por propiciar uma boa leitura com esse texto

    1. Isabela Nicastro says

      Jhonattan, que bom que vc gostou! Fico feliz!
      Continue acompanhando o Sem Travas na Língua. Curta a fanpage do blog e acompanhe as atualizações diárias.
      Beijo grande!

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