Da minha alma, para a sua

Não, não são escritas em papel de carta e caneta tinteiro. Também não são lacradas com cola de farinha e água. Não vêm com o cheiro do perfume no papel. Não possuem selo e, muito menos, são enviadas pelos Correios. No entanto, em momento algum, deixam de ser cartas. Possuem o objetivo de explicitar algo que a fala não dá conta de dizer. Isso basta para enquadrá-las no antigo estilo literário, que parece ter desaparecido nos dias atuais. Ledo engano, ele está mais vivo do que nunca.

Há um tempo recente, alguns as conheciam também como “depoimentos” de um velho Orkut. As de hoje chegam através de um bipe no Whatsapp, de uma janela que salta no Messenger ou até mesmo pela caixa de entrada do email. Dependendo do grau de seriedade e de intensidade do assunto, escolhe-se a rede social que melhor irá transmitir a mensagem.

São as tais cartas a exprimir o que o inconsciente insiste em manter. Por vezes, de dar vida às declarações de amor. De concretizar despedidas. De ajudar os tímidos a se libertarem. Seja um ‘eu te amo’ tímido, um adeus doloroso ou um simples demonstrar de sentimentos, em um mundo em que o máximo de expressão se resume a um like ou a um match no Tinder.

São sinceras, românticas e carinhosas. Algumas são breves e diretas. Outras passam de uma lauda e parecem esgotar tudo o que há pra dizer. Os tão conhecidos “textões” das redes sociais. De acordo com os preceitos psicanalíticos, a escrita talvez seja uma forma de sublimação. De aliviar tudo o que angustia. Sobretudo, são energias e sentimentos trocados entre almas. É preciso estar disposto para enviar e, mais ainda, para receber. Sem disposição, não há sintonia.

Por isso, eu continuo insistindo. Insisto em cartas que podem não mais se utilizar de papel e caneta, mas se utilizam do que há de melhor em mim. Esgotam os sentimentos em alguns estalar de caracteres. Fazem com que o tempo pare e que as memórias tomem conta. Alimentam-se dos momentos, sejam eles bons ou ruins. São cartas, mesmo que talvez nunca sejam entregues. Afinal, vêm da alma com o propósito de tocar outra alma.

Em um relacionamento sério com o inconsciente. Leia aqui.

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