Eu tinha tudo para desistir. Decepções, relacionamento abusivo, indiferença, mau caráter e até um pouco mais. Trago tudo isso na bagagem. No entanto, por incrível que pareça, ainda não desisti. Ainda continuo acreditando no amor. Na forma mais simples e singela de amar, é claro, sem as ilusões dos contos de fadas. Continuo acreditando em parceria para a vida toda, em carinho, em beleza nos pequenos gestos. Tolice? Esperança, prefiro dizer.

Nas férias, durante a estadia na casa dos meus pais, toda noite cumprimos um ritual. Ninguém nunca definiu isso, mas gosto de chamar um gesto tão simples dessa forma: o ritual da maça do amor. Em torno de umas 22h, meu pai vai até a cozinha e traz duas maças. Primeiro, distribui pedaços de uma para nós quatro. Depois, corta a outra e faz o mesmo. A segunda nunca é tão boa quanto à primeira, isso é fato. Contudo, as duas possuem sabores únicos e inesquecíveis.

Se, em algum momento, o amor tem sabor é definitivamente esse: o das maças partilhadas entre a gente. É sabor de parceria, de cuidado e, principalmente, sabor de união. União de mais de 25 anos de casamento e de cumplicidade na criação de duas filhas. Meus pais são, hoje, os grandes motivos de eu ainda acreditar e ter esperança no amor. São eles que me impedem de desistir, de esquecer que o coração existe.

Com eles, eu aprendo, todos os dias, o real significado de uma simples maça, muitas vezes sem gosto especial algum. Meus pais colocam o amor como o ingrediente especial em cada situação do dia a dia e, apesar de todos os pesares, é isso que me faz continuar acreditando. Eu quero um amor como o dos meus pais, como já disse nesse texto. Sobretudo, eu quero sentir um sabor diferente em uma simples maça, em um problema difícil, em uma situação leve ou tensa. Eu quero sentir o gosto do amor.

Meus pais podem ser a exceção. Talvez sejam mesmo, diante de tantos relacionamentos que não duram sequer um mês. Contudo, eu prefiro me apegar às exceções. Nunca gostei de regras e, de certa forma, sempre as contestei. Essa é só mais uma. Por mais clichê que essa frase possa parecer, são as exceções que realmente fazem a diferença. De fato, eu quero ser a exceção. Quero viver um amor de exceção. De jeito nenhum, um amor perfeito, mas que seja exceção mesmo diante de tamanha imperfeição.

Talvez a exceção já aconteça. Afinal, eu cometo, todos os dias, a loucura de não desistir do amor. Enlouqueça você também.