A gente leva da vida a vida que se leva
Estou passando uma semana na casa dos meus pais, para ajudar a minha mãe nos cuidados com o meu pai. Tento me dividir entre home office, ajuda em casa e momentos de lazer com eles. Hoje, meu avô chegou em casa e ficou quase uma hora arrumando a mangueira que havia estragado. No alto dos seus 94 anos, ele se dedica a consertar as pequenas coisas que estragam, a tocar seu accordeon e a dirigir seu Ford Ka pelas ruas da cidade pequena.
Meu avô já perdeu a companheira de 60 anos de casados, a minha avó. Meu avô não sabe muito bem assinar o próprio nome. Meu avô viu os pais, irmãos e alguns parentes falecerem. Mesmo assim, meu avô sai da própria casa para arrumar a mangueira na casa da filha. Ele gosta de se manter ocupado. Ele gosta de se ocupar com as coisas simples da vida. Mais do que isso, ele gosta, sobretudo, da vida.
Ele não deixa a velhice se ocupar dele. Ele se ocupa do que pode, mesmo que seja uma simples mangueira estragada. Ele gosta da atividade, do fazer, da sensação pulsante de estar vivo. Eu diria que meu vô aproveita a vida como ninguém. Mais do que nós, jovens, que dividem o dia entre afazeres a se cumprir e o universo online das redes sociais. Entre tantas obrigações, alguns ansiolíticos para ajudar.
É do meu avô o meu exemplo de como se levar a vida. Com alegria, positividade e muito amor-próprio. Afinal, como ele mesmo diz, ele se ama primeiro para depois amar os filhos, os netos, os bisnetos. Sem nunca ter estudado, ele dá lição de sabedoria. Com toda a certeza, meu avô levaria da vida não só os consertos que realiza, mas também a forma com que decide abraçar a vida e fazer dela o seu escudo. Não há quem ou o que o atinja. Ele está protegido pela vida. Sim, por ela, tão breve e efêmera. É ela que o protege, pois é a ela que ele se agarra. Não se deixa abater porque ele tem na vida o seu propósito, a sua escolha.
E você, o que levaria da vida que você leva?
p.s: na foto, eu, minha irmã, há uns 15 anos, fazendo um belo penteado no cabelo do meu avô.
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